Conheça a história do Operário Ferroviário – O maior do interior

Com mais de 100 anos de existência, o Operário Ferroviário Esporte Clube ocupa um lugar especial na história de Ponta Grossa. Confira cinco momentos que explicam a importância e a grandeza do clube no esporte paranaense e brasileiro 

Por Edilson Kernicki

Parte indissociável da cultura e do esporte local, o Operário Ferroviário Esporte Clube (OFEC) é personagem e agente de algumas das principais transformações sociais de Ponta Grossa durante todo o segundo século da história do município. Ao longo de 111 anos, desde a fundação do clube, o futebol deixou de ser um mero entretenimento e prática esportiva da elite para se popularizar e se tornar profissão e meio de vida que mexe com o imaginário de crianças e adolescentes que sonham em virar jogadores. Segunda agremiação mais antiga do estado, o “maior do interior do Paraná” já nasce com esse espírito popular e, desde a sua origem, promove a diversidade no esporte, ao reunir, entre jogadores e torcedores, os imigrantes, os trabalhadores humildes, os negros e as mulheres. O médico e torcedor Ângelo Luiz De Col Defino, autor de “Imortal – Operário Ferroviário: as histórias do Fantasma de Vila Oficinas” (Estrategium Comunicação, 2012) elenca, a seguir, cinco passagens dessa trajetória que explicam por que o clube é, mais do que uma tradição, um legado ponta-grossense.

PRIMEIRO ESTÁDIO

Décadas de 1910-1930

Time do então Operário Foot-ball Club em 1916, dois anos após o início da construção do primeiro estádio do clube. Foto: Antigamente em PG/Reprodução

Em 1914, dois anos após a fundação do Operário Foot-ball Club (OFC), iniciou-se a construção do primeiro estádio, na região de Vila Oficinas, local que hoje abriga a Igreja São Cristóvão, a Escola Estadual Jesus Divino Operário e o Cine-Teatro Pax – a terceira parte da Vila Ferroviária. Junto do primeiro estádio, foi construído um salão social para eventos e bailes. O novo espaço de lazer e recreação contribuiu para o avanço do desenvolvimento de Ponta Grossa em direção ao bairro de Oficinas.

Na década de 20, o agora denominado Operário Sport Club (OSC) era um clube em que predominava uma classe social até então inexistente: os operários da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande. Eles vieram para cá junto dos ingleses que chegaram em 1896 com engenheiros e técnicos para construir a ferrovia que ligaria São Paulo a Porto Alegre. Antes dos trens, Ponta Grossa era formada basicamente por agricultores e os seus funcionários, ex-escravizados, imigrantes e comerciantes.

O Operário foi um dos pioneiros no Brasil ao ter, entre os seus jogadores, atletas negros ou de origem indígena. Dessa “homenagem às raças”, idealizada por Alberto Scarpim, define-se o alvinegro do uniforme e do brasão. Os atletas que trabalhavam nas oficinas da rede ferroviária fizeram do Operário um clube popular, que atraía uma torcida diversa, e o primeiro a ter uma torcida feminina. A simpatia pelo time fez com que, décadas mais tarde, mesmo com vários clubes na cidade, pudesse contar com a maioria da torcida. A garra do time de Ponta Grossa assustava equipes visitantes, e o meio esportivo de Curitiba teria, assim, criado a alcunha “Fantasma da Vila”.

NOVO ESTÁDIO DO FANTASMA
Décadas de 1930-1940

Flagrante (provavelmente da década de 40) de uma partida nos primórdios do estádio hoje conhecido como Estádio Germano Krüger. Foto: Antigamente em PG/Reprodução

Ao incorporar o patrimônio do extinto Clube Athlético Ferroviário, em 1933, o Operário Sport Club adota o nome de Operário Ferroviário Esporte Clube, mas mantém 1º de maio de 1912 como data de fundação. Nesse período, a torcida cresceu de maneira que o estádio precisou de um espaço maior. Em 1937, o engenheiro Germano Krüger assumiu a presidência do clube com o projeto de levar o estádio para o endereço atual. O local do novo campo precisou ser aterrado, pois havia um olho d’água no espaço.

Em 12 de outubro de 1941, foi inaugurado o Estádio de Vila Oficinas. O jogo de estreia teve vitória alvinegra contra o União Campo Alegre, pelo placar de 6 x 1. Antes de ser denominado Estádio Germano Krüger, em 1966, o local ganhou o nome de Dr. Bento Munhoz da Rocha, que fora governador do Paraná nos anos 50. Por volta dessa época, o Operário construiu uma praça esportiva e uma área social bem mais amplas para atrair mais associados e trazer os ferroviários para a realização de eventos. No espaço do antigo campo, desenvolveu-se a Vila Ferroviária.

Ao vencer sete dos dez campeonatos regionais disputados nos anos 1940, o apelido “Fantasma dos Campos” se consolida. Em 1940, o clube foi vice-campeão estadual. Em 1947, a Federação Paranaense definiu o Coritiba como o campeão estadual, sem que o Operário, Campeão do Interior, tivesse o direito de disputar o título. Assim, o time sequer se inscreveu no Campeonato do Interior e no Estadual em 1949.

CLÁSSICOS OPE-GUÁ
Décadas de 1950-1960

Operário prestes a batalhar contra o time local do Guarani em 1951. Rivalidade histórica em Ponta Grossa, o “OPE-GUÁ” parava a cidade. Foto: Antigamente em PG/Reprodução

O primeiro jogo entre Operário e Guarani, time ponta-grossense que abandonou a liga profissional na década de 70, ocorreu em 22 de novembro de 1914, com vitória de 1 a 0 para o Fantasma. A rivalidade passou a marcar esses confrontos somente após a refundação do rubro-negro, em 1927. A “era de ouro” do clássico OPE-GUÁ ocorreu entre os anos de 1955 e 1964. Como se fosse um final de campeonato, o clássico parava a cidade.

De um lado, o Guarani, time que recebia partidas no Jockey Clube Ponta-Grossense, era considerado mais elitista, formado por profissionais liberais e filhos de comerciantes que estudavam fora e depois voltavam à cidade. Por isso, os torcedores operarianos apelidaram a torcida rival de “Pó de Arroz”, que tinha como reduto o Bar Maracanã, na rua XV de Novembro.

De outro lado, a torcida do clube de Vila Oficinas foi apelidada de “Graxeira”, por ser formada por operários e trabalhadores das fábricas, mais humildes. A graxa das oficinas dos trens virou símbolo de orgulho, e alguns torcedores chegavam a passá-la no rosto em partidas decisivas. O local de encontro era o bar Kings, no lado oposto da XV.

A partir de 1955, Operário e Guarani passaram a competir pela melhor classificação no Campeonato Paranaense. Nesse ano, o Fantasma ficou em 6º entre os 11 participantes. Depois, em 1956, ficou em 4º lugar; em 1957, em 5o; em 1958, foi vice; e, em 1959, ficou em 7º. O Guarani foi vice-estadual em 1956. Em 1961, o Fantasma sagrou-se vice-campeão Paranaense e campeão da Zona Sul do Estadual. Justamente no ano de implantação da Lei de Acesso e Descenso, em 1965, o Operário foi rebaixado à Segunda Divisão, e só em 1969 recuperou o acesso à Primeira. O clube Guarani, a partir dos anos 1970, passou priorizar a área social.

OPERÁRIO NA 1a DIVISÃO DO BRASILEIRO
Final dos anos 70

Em 1979, o Alvinegro fez a sua única participação na divisão principal do Campeonato Brasileiro (naquele ano denominado Copa do Brasil). Foto: Antigamente em PG/Reprodução.

Em 1979, a Companhia de Desenvolvimento Ponta-Grossense (CIDEP) propõe modernizar o Germano Krüger com a construção de novos lances de arquibancadas em concreto, que substituíram as de madeira, e de uma nova arquibancada coberta. Como contrapartida, a CIDEP teria direito ao lucro pela venda de cadeiras cativas por 20 anos.A estreia do Operário em sua única participação na divisão principal do Campeonato Brasileiro – Copa do Brasil, com 94 clubes, coincidiu com a inauguração dos refletores do estádio, em 27 de setembro de 1979. O empate de 1 x 1, contra o Brasil de Pelotas, teve público oficial de 9.399 pagantes. Destacam-se as vitórias em casa contra o Colatina (ES) e o Chapecoense (SC), e, como visitante, contra o São Paulo (RS), na cidade de Rio Grande. Terminou o Campeonato em 88º lugar.

A partir dessa fase, o Operário participou da Taça de Prata do Campeonato Brasileiro (1980), quando obteve o 53º lugar entre 64 times e voltou à Série B do Brasileiro em 1989 – ocupando o 11º lugar entre 96 clubes. Em 1990, ficou em 5º na Série B, entre 24 clubes, e a um ponto do acesso à Série A. Em 1991, caiu para a Série C, na 29ª posição entre 64 clubes. Nesse período, surgiram os patrocínios no uniforme e nas placas ao redor do campo no estádio. Torna-se um time extremamente competitivo nos campeonatos estaduais do Paraná, até que se licencia do futebol profissional em 1994.

Também foi nesse período que a administração pública tentou oficializar o repasse do terreno do Germano Krüger – que antes pertencia à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) – ao clube. O terreno foi regularizado, de fato, somente em 2020, com a assinatura do termo de cessão ao clube.

RETORNO AO FUTEBOL PROFISSIONAL
2004 aos dias atuais

Em 2015, o Fantasma conquistou o glorioso título de Campeão Paranaense. Foto: Divulgação.

Em 2004, o Alvinegro ressurgiu das cinzas para a retomada do futebol profissional com a disputa da Segunda Divisão Paranaense. A Prefeitura arrendou o Germano Krüger para competições esportivas municipais e reformou a estrutura. O futebol começou a experimentar uma ascensão gradual. Em 2005 e 2008, chegou às semifinais da Segunda Divisão. Em 2009, subiu à Primeira com uma rodada de antecedência e terminou como vice. Em 2010, ficou em 5º no Paranaense e garantiu uma das duas vagas paranaenses para a Série D do Brasileirão, em que chegou às quartas e terminou em 6º entre 40 clubes. Em 2011, ficou em 3º lugar e garantiu vagas para a Série D do Brasileiro (2011) e Copa do Brasil (2012).

Com um futebol cada vez mais profissional, a partir de 2014 o Operário galgou um degrau por vez e viveu uma sequência de grandes campanhas. A criação de um Grupo Gestor, em 2008, e do plano de sócio-torcedor, contribuiu para isso. No Paranaense 2015, o Fantasma conquistou o glorioso título inédito de Campeão Paranaense. Alcançou o 5º lugar em 2019 e 2020, e o 3º nos três anos seguintes. Foi campeão invicto na Taça FPF (2016) e na Segunda Divisão Estadual (2018). Participou de seis Copas do Brasil: 2012, 2016, 2020, 2021, 2022, 2023.

No Brasileiro, viveu uma ascensão meteórica e se tornou o primeiro clube a conquistar os títulos das Séries D (2017) e C (2018) de maneira consecutiva. Depois de 28 anos, retornou à Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro e voltou a sonhar com a classificação para a Série A. Terminou a campanha em 10º lugar. Nos campeonatos posteriores, ficou em 8º (2020), 12º (2021) e 19º (2022). Com uma campanha vitoriosa na Série C, que se encerra em novembro, entrou na fase decisiva para definir o retorno à Série B.

Sinval Silva para o Itay Notícias
Fonte: Edilson Kernickli/Revista D’Ponta
Fotos: José Tramontin e Antigamente em PG/Reprodução.

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